Por definição, o mel é um fluido doce e viscoso. Produzido pelas abelhas a partir do néctar das plantas, é estocado nas favas onde fica disponível para que as abelhas trabalhadeiras dele se sirvam.
Na antiguidade, o mel era utilizado ou como agente biofitoterápico ou para induzir a fermentação das bebidas, promover a conservação dos alimentos e garantir a perfeita mumificação dos mortos. Só eventualmente era usado como adoçante.
O mel não é uma substância criada pelas abelhas, mas sim produto de um processo metabólico por elas engendrado. Ao mastigarem o néctar, que é uma solução de água e sacarose extraída das flores, elas acrescentam-lhe a enzima invertase, que decompõe a sacarose em frutose e glicose – açúcares mais simples. Com a continuação da mastigação, parte da glicose é metabolizado pela enzima glicose oxidase e convertida em:
· Ácido glicônico – fator de acidificação do mel e de impedimento à sobrevivência de micro-organismos;
· Peróxido de hidrogênio – ou água oxigenada – agente oxidante, fundamental à sobrevida dos micro-organismos disbióticos.
A consistência do mel é fruto do processo de desidratação do néctar iniciado na sua transferência de boca em boca entre as abelhas e, finalmente, já depositado nas favas, pela ação do vento no bater das asas das abelhas.
A viscosidade do mel varia com o grau de umidade. O de grau A tem uma umidade relativa de 18,6%, enquanto o de grau C tem 20%. O primeiro, mais estável, pode ser preservado por um período mais longo, bastando ser mantido vedado e sob uma temperatura abaixo de 11°C, ou ainda entre 21- 27°C, segundo os experts.
O mel na história da humanidade
A referência mais antiga que se tem do mel é um conjunto de desenhos onde figuras humanas são vistas empenhadas na sua colheita. Esse documento histórico, de 15.000 anos atrás, se encontra na “Caverna das Aranhas”, na Espanha.
No Egito, Síria e Grécia, o mel era muito utilizado para embalsamar os mortos. O corpo de Alexandre o Grande foi conservado no mel por 300 anos. Também foi encontrado o corpo de uma criança que há cerca de 800 anos jazia em um tonel de mel.
Para os gregos, o mel era de origem divina, uma espécie de garantia de imortalidade e vida eterna. Júpiter, nutrido a leite e mel quando criança, adquiriu força suficiente para destronar seu pai. Misturado ao sangue, era um elemento importante para as oblações (oferendas) durante os festivais e funerais.
Segundo Homero, o mel tanto propiciava coragem aos guerreiros como tratava os enfermos. Pitágoras atribuía-lhe os seus 90 anos, proclamando que se não fosse o mel teria sucumbido aos 15 anos. Platão também creditava a longa vida de Hipócrates, o pai da medicina, ao mel. Na verdade, Hipócrates e Aristóteles promoviam o mel como fator de longevidade.
Para o milenar sistema da medicina ayurvedica, o mel é predominantemente um veículo de aceleração à absorção de outras ervas medicinais, o que explica a sua presença em quase todas as fórmulas medicinais do Antigo Egito. Como agente biofitoterápico em si, o mel só era utilizado no caso de doenças ou situações muito específicas como:
Catarata e doenças da cavidade bucal.
Debilidade física dos recém-nascidos, crianças, idosos e convalescentes.
Irritação e infecção do sistema respiratório.
Tonificação daqueles que precisavam manter um excelente desempenho físico.
No Velho Testamento, o mel aparece como alimento de João Batista e de Elias. No início da Era Cristã, era dado aos cristãos-novos como símbolo de renovação e perfeição espiritual. Ainda hoje, para os cristãos ortodoxos, a presença do mel é obrigatória nas noites de Natal e nos banquetes funerários.
Os romanos o utilizavam para preservar raízes, ervas, flores, sementes e carnes, principalmente das caças que traziam de suas conquistas longínquas. Os árabes ainda hoje conservam o hábito de utilizar o mel para a preservação de certas carnes.
Na Idade Média, o mel era conhecido por tornar os homens mais robustos, saudáveis e resistentes, assim como agente terapêutico para problemas internos e externos. Os espanhóis que chagaram ao México e à América Central encontraram os nativos dominando as técnicas da coleta do mel.
O poder de estimulação que o mel exerce sobre as atividades físicas e mentais está muito ligado à indução da dilatação das artérias, veias e vasos do cérebro, assim como à melhor qualidade de resposta do sistema nervoso e do sistema endócrino.
As propriedades biológicas do mel, rico em fatores de crescimento, também são do benefício das plantas:
As flores – quando postas em água com mel conservam-se por muito tempo;
Os enxertos – envoltos em mel cicatrizam-se mais rapidamente, assim como os galhos quebrados.
O mel na medicina chinesa
Sabor – Doce.
Natureza – Neutra.
Lugar de ação – Meridiano dos pulmões, do pâncreas e do intestino grosso.
Modo de ação – Tonifica o organismo. Umedece a secura. Acalma as dores. Neutraliza as toxinas.
Contra-indicações – Catarro úmido. Estagnação do triplo aquecedor mediano. Diarreia. Ventre distendido.
“O mel cru é de natureza fresca e escorregadia. Pode ser usado como laxativo, mas é contra-indicado nos casos de: ausência de energia no intestino grosso, problemas de má digestão, vômito nos etílicos, distensão do ventre, excesso de energia no triplo aquecedor mediano, síndromes úmidas, edema nos pés provocado pelo calor – Bem Cao Tu Jing”.
O mel cru – de natureza fria (yin), promove a eliminação do calor tóxico (yang).
O mel cozido – de natureza morna (yang), tonifica o organismo desenergizado (yin).
Segundo um manual médico da China do século III a.C., o consumo diário de mel pode controlar a fome, fortalecer a vontade, prolongar a vida e promover a juventude do organismo.
Um outro texto, datado de 1625, qualifica o mel como portador de uma energia fria e capaz de promover a diarreia ou prisão de ventre. Caso o intestino grosso se encontre sem energia, o mel deve ser administrado como remédio. O texto assinala ainda que o mel é contra-indicado nos casos de vômito, abdome inchado, intoxicação alimentar e doenças causadas pelo excesso de calor úmido no organismo, como no caso do beribéri.
Segundo um outro documento, de 1861, o potencial apiterapêutico do mel serve para desintoxicar, aliviar as dores, como as do abdome e das úlceras, elevar os níveis de energia, eliminar o calor tóxico, lubrificar a secura e tonificar o organismo. Pesquisadores chineses na década de 1940 demonstraram, cientificamente, o potencial bactericida e cicatrizante do mel.
A qualidade do mel
As qualidades de um bom mel podem ser preservadas por muitos anos. Já o mel de má qualidade, ou com excesso de umidade, fermenta e azeda com grande facilidade.
A cristalização do mel pode ser um indicativo do seu grau de pureza, mas não prova, pois a adição de farinha, cal ou partículas de cereais provoca o mesmo efeito. Por isso, a compra do mel exige o conhecimento das suas origens e da idoneidade do produtor.
No caso de o mel cristalizar, é fácil liquidificá-lo novamente no banho-maria ou no vapor do bico de uma chaleira, mas nunca diretamente no fogo ou em um forno a gás, elétrico ou microondas.
Fonte: Saúde & Beleza Forever: seu guia contemporâneo de nutrição e higiene.
Autora: Mônica Lacombe Camargo – 2003 – Edição Esgotado
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